Rae


Oi, eu sou a Ge!
Sou formada em Letras pela Universidade de São Paulo, com habilitação em coreano. Aqui, desejo compartilhar qualquer assunto de que eu goste, principalmente sobre a cultura coreana e teatro.
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RESENHA | Jun de Keum Suk Gendry-K

Divulgação: Pipoca e Nanquim

Desconstruindo Estigmas e Promovendo a Aceitação

O mês de abril é dedicado à conscientização do autismo, uma época em que uma série de iniciativas e campanhas são realizadas para disseminar informações sobre o transtorno, com o objetivo de diminuir a discriminação e o preconceito enfrentados pelas pessoas que vivem com autismo. Foi instaurado pela ONU a campanha Abril Azul, sendo o dia 02/04 o "Dia Mundial Da Conscientização do Autismo".

O livro a seguir aborda o Transtorno do Espectro Autista (TEA), e Jun é o protagonista central dessa história.

JUN

Jun é uma graphic novel coreana publicada em 2020 pela Editora Pipoca & Nanquim e traduzida pela Drª Profª Yun Jun Im Park, integrante do Departamento de Letras Orientais da FFLCH na Universidade de São Paulo (USP). 

A história apresenta Jun, um garoto portador do Transtorno do Espectro Autista, através dos olhos de sua irmã mais nova, Yun-Seon. Desde sua infância, testemunhamos a dificuldade que é, para ele, se comunicar e ser compreendido pelos outros, enquanto ele encontra conforto em qualquer coisa que produza som, especialmente ventiladores.

Por conta do excesso de preocupação que os pais direcionam a Jun, sua irmã, Yun-Seon, sente-se negligenciada. Crescendo com um irmão autista, ela era muito jovem para compreender a situação plenamente. Isso significa que Yun não precisou aceitar a condição do irmão; ela sempre lidou com ele à sua maneira.

Por isso, ela não compartilha do mesmo choque que seus pais ao receberem o diagnóstico e perceberem o impacto que isso teria na família. Para Yun-Seon, seus pais sempre trataram Jun como um bebê, ao passo que ela sempre acreditou na capacidade do irmão de se virar sozinho.

Divulgação: Pipoca e Nanquim

No entanto, simples atividades como uma ida ao metrô ou ao supermercado atraíam olhares preconceituosos de pessoas que desconheciam a condição de Jun, rotulando-o como um simples "incômodo". A família lutava para passar despercebida, mas a discriminação social era inevitável.

Preocupados com o futuro e o desenvolvimento de Jun, os pais de Yun dedicaram-se intensamente para que ele aprendesse a falar o mais rápido possível. Começaram a etiquetar os objetos da casa e a dar-lhe instruções simples, como "vestir uma camiseta" ou "calçar um sapato". Quando Jun não conseguia, eles insistiam ao máximo para que ele aprendesse, irritando Yun, que pedia para deixar o irmão em paz.

Yun não entendia a abordagem dos pais para com Jun. Sentia-se em segundo plano, sempre fornecendo apoio logístico à mãe. Questionava-se por que nunca recebia roupas novas e sempre tinha que reutilizar as do irmão, ou por que Jun não podia ajudar a mãe no mercado em vez dela.

Após passar por diversos tipos de tratamento, Jun é introduzido ao Pansori. A partir disso, ele transcende a percepção de ser apenas um garoto autista para se tornar um verdadeiro artista. O que sua família não percebia era que sua maneira de se comunicar sempre esteve presente, revelando-se quando ele se encantava com os sons das hélices dos ventiladores. Para Jun, a música era sua linguagem de expressão.

Ele iniciou sua jornada vocal repetindo as letras das canções e, gradualmente, começou a realizar breves apresentações todos os domingos em Insa-dong, um bairro turístico de Seul. Jun sentia-se extremamente feliz, dedicando horas para decorar as músicas e estudar Pansori. Esse reconhecimento proporcionou-lhe uma breve autonomia em relação à sua família.

Entretanto, surge a questão: será que a sociedade está preparada para acolher calorosamente pessoas em todo o espectro do autismo? 

Em uma passagem do livro, Yun relata que sua mãe respondeu em uma entrevista que o maior desejo dela e do marido é "viver um dia a mais que Jun". 

A solução para essa apreensão é, portanto, viver o presente. "Hoje ele está feliz", conclui a irmã.

A autora

Keum Suk Gendry-Kim nasceu em 1971, na região de Jeolla, no sul da Coreia do Sul. Ela estudou pintura na Universidade de Sejong e na École Supérieure Des Arts Décoratifs, em Estrasburgo, França.  Suas obras são publicadas no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim. Sua obra "Grama" recebeu prêmios em vários países, incluindo os oferecidos pelos jornais The New York Times e The Guardian, os prêmios Krause Essay, Big Other Book, The Cartoonist Studio e Harvey, e indicações para o Eisner. Algumas de suas obras mais importantes incluem "Jun", "A Espera", "Batatas", "Árvore Nua" e "Alexandra Kim: Filha da Sibéria", entre outras. Conheça as obras da autora clicando aqui. 🩷

Notas: TEA (Transtorno do Espectro Autista) é um transtorno de desenvolvimento neurológico, caracterizado pela dificuldade de comunicação e/ou interação social.

Referências Bibliográficas

Gendry-Kim, K.S. (2022). Jun. São Paulo: Pipoca e Nanquim.


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